Ana Luísa Beirão utilizou ontem a rede social Facebook para defender-se sobre o que se passou na sessão da assembleia municipal de 27 de abril onde proferiu, em surdina uma frase ofensiva no final de uma intervenção de um deputado do Chega que este partido e outros interpretaram como sendo dirigida ao orador.
A afirmação, “ai que vontade de lhe partir o focinho”, foi captada pelo microfone que envia som para transmissão “on-line” e espoletou um turbilhão político nos dias seguintes.
A presidente do órgão deliberativo reitera, no seu “post”, que o “desabafo pessoal” foi “maliciosamente divulgado com o único e lamentável objetivo de denegrir a minha imagem”.
“A minha manifestação espontânea, refletia apenas a indignação que senti naquele momento, devido às mensagens insultuosas que estava a receber desde o início da sessão”, explica.
Ana Luísa Beirão diz que não se orgulha da frase que proferiu, mas tal “traduzia a minha angústia e revolta perante as acusações e ameaças recebidas, que não só foram dirigidas a mim, mas também à minha família”.
E descreve momentos complicados: “estas mesmas ameaças foram de imediato materializadas logo após o final dessa mesma Assembleia quando cheguei junto da minha viatura. Não imaginava eu, nesse momento, que iriam continuar mais ameaças intimidatórias e execráveis nos dias seguintes. Recorri, como é óbvio, à ajuda das forças de segurança pública”.
Ana Luísa Beirão diz que tudo isto “foi formalmente relatado, documentado e denunciado, no dia 8 às autoridades competentes, assunto que está a ser devidamente tratado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP)”.
Por isso, sustenta que “é inconcebível, malicioso e falso” afirmar-se que a frase era dirigida ao deputado e, assim sendo, “não fazia qualquer sentido eu pedir desculpas por algo que não fiz”.
Da sua argumentação diz ter informado, pessoalmente, o presidente da Câmara, Vítor Costa (que, recorde-se, também é o líder da concelhia do PS pelo qual Ana Luís Beirão foi eleita), e sentindo-se de “consciência totalmente tranquila” diz ter acreditado “que esse incidente não justificava a apresentação da minha demissão nem invalidaria a continuidade das minhas funções”.
No entanto, o Grupo Municipal do PS “adotou uma postura acusatória, apesar da minha longa solidariedade com este” e o líder da bancada, João Fonseca, comunicou por telefone que “deixaram de existir condições para a (minha) continuidade de funções, pelo que não pode manter a sua confiança para o exercício do mandato”.
Lamentando “profundamente” que o seu partido, “que se sempre se orgulhou e pautou pelos valores como a justiça social, a igualdade e a solidariedade” tenha tomado tal decisão, e em respeito pelos “milhares de vilacondenses que me confiaram o maior número de votos na lista que liderei à Assembleia Municipal nas eleições autárquicas de 2021”, Ana Luísa Beirão manifesta a “decisão de continuar a servir Vila do Conde no cargo que exerço por direito próprio”
“Não será agora por algumas pessoas, movidas por interesses que desconheço, que conseguirão colocar em causa a minha reputação de pessoa verdadeira, honesta e trabalhadora, construída ao longo de décadas, incluindo quase quarenta anos de dedicação ao Partido Socialista”, especifica.
Todavia, caso o PS lhe puxe o tapete – ou seja se for “destituída do cargo de Presidente deste Órgão Municipal para o qual fui eleita” – então Ana Luísa Beirão não continuará na assembleia (podia fazer como deputada).
“Não poderei, de forma alguma e convictamente, manter-me no seio do Grupo Municipal do PS de Vila do Conde que me tratou de maneira injusta e comprometendo a minha honra e dignidade”, revela, anunciando que nesse cenário de destituição avançará para uma atitude extrema: “renunciarei ao mandato”.
“Esta decisão, embora difícil e dolorosa, é tomada com a consciência tranquila de quem sempre buscou agir com integridade e responsabilidade”, continua enfatizando que escolheu “o caminho mais difícil, ou seja, o caminho da verdade dos factos”.
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